terça-feira, 18 de abril de 2017

Após a Páscoa 2017 – algumas reflexões necessárias

A semana de Páscoa revelou excelentes números (provisórios) de Turismo um pouco por toda a Europa. A Espanha e a Grécia terão igualado ou superado as expetativas. A surpresa foi a revelação que nos chegou de Londres: à beira do longo fim de semana Pascal, os destinos mais baratos (aqui falamos de viagens de última hora) à venda no Reino Unido eram, em primeiro lugar, uma região da Bulgária (nenhuma surpresa) e, em segundo lugar, o Algarve. Neste caso, não se trataria de “toda” a região, mas dos destinos de litoral mais “consumidos” pelos britânicos ávidos por sol e praia, ávidos por um verão antes do verdadeiro verão. Esta informação é válida para destinos relativamente próximos do Reino Unido, pelo que se exclui o Magrebe, o médio oriente em geral, incluindo a Turquia. Esta última vive ainda momentos políticos agitados, não sendo de admirar números oficiais que revelam já 15 meses consecutivos de queda da atividade turística. Já caiu muito mais, mas ainda continua a perder.

A Grécia está a recuperar fortemente como já se esperava pelo volume de reservas. A Espanha vive momentos de glória quer no continente quer nos arquipélagos. Está a crescer em número de visitantes, de dormidas e de receitas. Mais tarde veremos se o gasto médio por turista aumentou como pensamos que está a acontecer. Aliás, os operadores (sempre à procura de pechinchas) queixam-se dos preços em Espanha, afirmando que está mais caro um 3 estrelas em Espanha do que um 5 estrelas na Turquia. Parece até que já se esqueceram que isso não tem nada a ver com Espanha, mas sim com a Turquia. Simples assim.

Portugal vive bons momentos. A boa notícia para o país é que os destinos Lisboa, Porto não são os únicos a crescer. Há muita gente a descobrir outras partes do país, situação muito positiva se tiver continuidade. Acreditamos que o potencial está aí para esses destinos emergentes.

O Algarve é um caso diferente. Porque é que, de repente, se transforma num destino dos mais baratos (no sol e praia), quer em “early birds”, quer em “last minute bookings”?
Por um lado, é barato apenas no contexto da Europa Ocidental, mas não num contexto geograficamente mais abrangente. Não é de admirar que a larga maioria dos turistas que nos visitam tenham origem, então, nesse “mundo ocidental”, principalmente europeu. É um destino em conta, sendo que o € não alterou nada, pelo contrário, os preços tornaram-se mais transparentes para os nossos turistas.

Por outro lado, assiste-se a um aumento espantoso da oferta de alojamento. A esse propósito, vale a pena lembrar que é um erro continuar a falar em “camas paralelas” para descrever aquilo que não é classificado pela instituição Turismo de Portugal, aquilo que agora se chama Alojamento local (AL). Não há camas paralelas, há camas, ponto final. Pode haver camas ilegais não registadas sequer nas Câmaras Municipais. Cabe às autoridades punir essa situação. Mas todas as camas registadas com base na Lei em vigor, são camas turísticas, de uma forma ou de outra, da mais luxuosa até à mais modesta. Somando tudo, assiste-se a um aumento da oferta, sendo que tal vai levar a prazo a uma maior ocupação. Mas enquanto não se recuperar um certo equilíbrio entre procura e oferta, a consequência prática passa por preços mais baratos, desde logo nos alojamentos que chegam ao mercado (tanto faz se a plataforma é o Airbnb ou outra mais “clássica”), o que acaba por retirar pressão compradora sobre alojamentos classificados, os quais acabam por sucumbir à pressão do mercado. Os alojamentos classificados, aliás, sempre tiveram esse problema. Hoje é a concorrência interna, antes era a externa, o que levava a uma submissão às pressões dos TO para oferecerem melhores preços, de modo a garantir boas ocupações. Na prática, isso levou a um envelhecimento de muitas unidades sem que fosse possível a sua modernização. É a velha história da “pescadinha de rabo na boca”. Não foi possível gerar um EBIDTA suficiente para o investimento, adiaram-se melhorias e novos investimentos (obras, marketing, tecnologias, etc…), as estruturas perdem valor comercial, o que obriga a baixar preços porque a qualidade física e humana se degradou, o que impede novamente investimentos a não ser que entre capital “fresco”. Para que não se degrade a relação qualidade/preço, o que fazer quando a qualidade baixa? Sem possibilidade de investimentos, resta baixar o preço para não perder essa relação esperando agradar ao mercado. Ainda que não seja a clientela desejada, há sempre outra clientela para substituir a anterior. É o chamada nivelamento por baixo, do qual muitos não conseguiram fugir. Felizmente existem boas exceções ao que ficou dito. Quem nos dera que fossem a regra, mas ao menos vamos acreditar que haverá mais exceções.

Quando a larga maioria da oferta tende a ser “barata”, como é o caso (agora alavancado pelo AL) do Algarve, quando a maioria dos voos já era “barato”, o que acontece? Aumenta o volume de turistas, sem garantias de aumento da estadia média, sem grande propensão para aumentar o gasto médio. Ainda que aumente o gasto médio dos turistas que ocupam hotéis de três, quatro e cinco estrelas, a média geral da região dificilmente aumentará, devido ao mais baixo gasto médio dos turistas AL. Dado que muito desse AL (e não só…) é “self-catering”, os supermercados esfregam as mãos de contentes. Por isso mesmo, muitos comerciantes (similares de hotelaria) congratulam-se com o que se passou nesta Páscoa, estão contentes com as perspetivas de longo prazo, mas sentem uma certa frustração pelo facto de receitas e lucros ficarem um tanto ou quanto aquém do esperado. A razão para tal é exatamente esse nivelamento por baixo, como se o Algarve fosse uma espécie de substituto de destinos como a Turquia, algo que a Espanha já foi, mas hoje não consegue ser e nem deseja ser.


Esta é a nossa vida agora, o nosso país, a nossa região, temos de fazer o melhor para obter o máximo proveito. Para que se atinja um patamar mais elevado, é necessário que o Algarve tenha 20 a 30% mais de visitantes, dos quais alguns serão “low cost”, mas outros terão poder de compra para alavancar as contas dos empresários. Se a economia global ajudar, isso poderá ser atingido em algum momento da próxima década.

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