domingo, 5 de março de 2017

Algarve e outros continuam a ser premiados com totolotos

No que toca ao turismo, à visita de turistas, é sabido que o destino Península Ibérica se tornou um grande beneficiário de crises políticas, militares, civilizacionais, entre outras, de destinos concorrentes. Estamos a afirmar o óbvio, já todos sabemos que turismo não rima com terrorismo e que, excetuando os poucos amantes do chamado “turismo político”, as “massas” afastam-se de destinos potencialmente problemáticos. As probabilidades de ocorrerem situações stressantes já são mais que muitas numa viagem ao estrangeiro considerada “normal”, pelo que optar por um destino potencialmente problemático pode ser duplamente stressante.

Assim sendo, tomando em conta o enorme universo dos chamados turistas de sol e praia, sobretudo daqueles que invadem o sul e o mediterrâneo, partindo do centro e norte da europa, pode-se falar de um enorme prejuízo para os destinos instáveis, beneficiando outros mais sossegados, se é que esta é a palavra certa.

Espanha e Portugal despontam para o turismo de massas, o tal das férias de verão que até podem ser em qualquer momento do ano se a meteorologia assim o permitir, em momentos diferentes. Nos anos setenta do século passado, Espanha já era um monstro sagrado, Portugal estava ainda a despertar. Ambos tiveram nessa década profundas alterações políticas e sociais, com maior abertura à Europa e ao mundo. Nessa altura ainda houve espaço para algumas desconfianças, sobretudo em Portugal, mas nada de especial mudou. Pelo contrário, com a estabilização política e a abertura, criaram-se oportunidades novas no setor do turismo. Nunca mais a Península Ibérica parou de crescer no setor, ainda mais com a adesão à então CEE. Tanto que assim foi que ambos os países só registaram quedas de atividade devido a crises económicas nos países emissores, sendo o último e infeliz exemplo a grande recessão global de 2008, felizmente já ultrapassada. Esperamos que definitivamente. Outras crises surgirão a seu tempo, mas, no longo prazo, esta atividade continuará o seu bom caminho.

Sem as conturbações nos destinos concorrentes, o crescimento da atividade continuaria a ser uma realidade embora com ganhos mais modestos, de tal forma que ninguém sentiria ou falaria de um “boom”, apenas de uma “forte retoma da atividade”. Os mercados de sol e praia da Península são maduros, já viveram o seu momento de esplendor, próprio dos destinos novos que viraram moda.
Com a emergência de novos problemas nos destinos concorrentes, até os destinos maduros da Península Ibérica parecem reviver os momentos do seu “big bang” inicial. Crescimento sempre acima do esperado, visitas de novos turistas e retorno mais constante dos “habituais”.

Foi isso a que assistimos em 2015 e mais concretamente em 2016 – é isso que se passa novamente em 2017. É verdade que a Tunísia e o Egito estão, finalmente, a recuperar perdas anteriores. Porém, recuperar perdas é uma coisa, voltar a máximos históricos é outra coisa. Nesse caso, esses e outros destinos ainda estão longe de tal desiderato. O caso da Turquia é mais complexo. Complexo e importante no contexto da concorrência entre destinos congéneres. Sendo mais barato (em termos absolutos) do que os Ibéricos e, nalguns casos, um destino com boa relação qualidade/preço, mais uma vez em comparação com os mesmos, é um destino que “rouba” muitos clientes da europa central e do norte, ou seja, das grandes zonas emissoras de turistas de sol e praia. Com a vantagem de oferecer também cultura e história, algo de que nem todos se podem orgulhar. Com o aumento da insegurança pública, da instabilidade política, enfim, com o advento do terror, foi dos que mais perdeu (lembrar da queda superior a 30% em 2016), para benefício de outros. Havia a expetativa de retornar ao crescimento a partir do segundo semestre de 17, mas a situação está complicada. Agora mesmo, devido a graves tensões políticas, há políticos alemães de diversos quadrantes a ponderar apelar a um boicote às viagens de férias para aquele país. O mesmo se passa na Holanda. Logo países fundamentais quando se fala de mercados emissores. Imagine-se o que pode acontecer, em termos de mercado europeu, se ainda mais turistas desistirem daquele destino!!

Neste caso particular, trata-se de mais um “totoloto” para o Algarve, para a costa sul e ilhas de Espanha, mas também para a Grécia, Bulgária e Croácia, sendo estes dois últimos, mercados em ascensão. No caso da Grécia, após um certo receio devido à proximidade geográfica e à instabilidade financeira, está agora a ocorrer um retorno em forte. Longe vão os tempos em que os helénicos (lá atrás com o início do Euro) decidiram ser um destino “caro”. Agora voltam à realidade da concorrência, muito por força dos vizinhos da europa de leste “descobertos” pelos turistas. Ao mesmo tempo, pode-se dizer: crise a quanto obrigas. Há muita procura pela Grécia para o próximo verão IATA. De Espanha nem vale a pena mencionar as enchentes que vão ocorrer nas Baleares e, de certo modo, nas Canárias e na costa sul do continente.

Portugal iria sempre beneficiar por “default”, mas além do mais, está na moda.

Outro fator de instabilidade, neste caso particular, para o Algarve, prende-se com as consequências económicas do Brexit. Recorde-se que quase metade dos passageiros que desembarcam no nosso “Faro Airport” tem origem no Reino Unido. De momento, é prematuro prever seja o que for, mas não se pode negar que a queda da Libra Esterlina vai ter algumas consequências. Acreditamos que tal se vai traduzir numa pequena queda do gasto médio por cabeça, o que pode ser grave quando se trata de “muitas cabeças”. Felizmente, tal deverá ser compensado pelo aumento de turistas de origem germanófila, do Benelux, França, Itália, Espanha, nórdicos e até do turismo interno.

Em paralelo, continua a ser cada vez mais fácil, rápido, seguro, efetuar reservas de hotelaria através da rede, via computador clássico ou tecnologias móveis. O crescimento segue bem vivo de ano para ano. Por outro lado, alguns operadores (TO) clássicos, sobreviventes da crise e outros com novos paradigmas, têm programas de férias, experiências e pacotes com ofertas mais assertivas (quem não se adapta, morre), as quais contribuem também para o incremento da atividade turística.


Como se vê, de momento, quase tudo contribui para o crescimento de curto e longo prazo entre nós. De maneira que, sem más surpresas e sendo tudo o resto igual, continuamos aqui no nosso “turismo 3.0” confortáveis com a ideia de crescimento para este e o próximo ano, mesmo depois de três anos positivos, com destaque para o último. Se a previsão (média) de crescimento europeu de 2% para o total do “travel market” nos parece sensata porque não embarca em euforias, a nossa previsão para o Algarve, de igual valor ou um pouco acima disso, continua em linha com a realidade a que temos assistido neste primeiro trimestre.