Para sair do ano velho e com esperança no ano novo, fica aqui esta pérola do site familybreakfinder.co.uk
Um mapa do mundo com todos os "slogans" de turismo dos países que os têm.
Em 2017, viaje, divirta-se, declare o seu amor ao turismo
Um espaço de discussão e informação sobre Turismo diferente e muito à frente. "We start where the others stop"
sexta-feira, 30 de dezembro de 2016
quarta-feira, 28 de dezembro de 2016
Desconstruindo o "boom" do Turismo - parte II
Na 1ª parte, falámos da tendência de crescimento da
atividade do Turismo, da indústria hoteleira em geral, como algo civilizacional.
Já dizia Fritz Joussen, CEO do grupo TUI em fevereiro último: “nós não somos
apenas um grande operador, isso era dantes, o nosso negócio é agora hotéis e
cruzeiros. Cada vez mais assim será porque o Turismo é uma indústria em
crescimento e nós seremos um grupo cada vez mais global e acutilante”. Estas
palavras, vindas de um “insider” do ramo, dizem muito sobre o “zeitgeist”, o
espírito dos tempos que correm.
A propósito, existem duas áreas em forte expansão: os
cruzeiros oceânicos de curta e média duração são cada vez mais apelativos, não
sendo alheio este “boom” à imagem de segurança antiterrorismo que uma
embarcação proporciona devido ao controlo de acessos, em contraste com uma
praia cheia de pessoas sem qualquer restrição de acesso. Só na Europa, 75 novas
embarcações deverão entrar ao serviço na próxima década. Em 2017, espera-se um
aumento de um milhão de passageiros em relação a 2016, a nível mundial, seja de
24 para 25 milhões. A outra, é o “bleisure”. Uma mistura de viagem teoricamente
de “business” mas que tem uma forte componente de “leisure”. Esta é mais uma
tendência a explodir em alta nos próximos tempos, uma realidade, cremos,
imparável.
Em relação ao dito “boom”, vamos começar pela Europa. De
Portugal já está tudo dito. A tendência é de expansão. Não acreditamos na
repetição de crescimento anual da ordem dos 10% como um todo, mas seguramente
teremos boas surpresas em novos mercados dentro do mercado nacional. O exemplo
dos Açores vai merecer tópico próprio, mas teremos expansão um pouco por todo o
lado, não só em Lisboa, Porto e Algarve. Se for assim, ainda bem. É uma
importante fonte de emprego e rendimentos de que todos devem poder participar.
Para quem beneficiou de um ano em cheio, manter o mesmo nível ou aumentar um
pouco que seja, já será motivo para abrir a garrafa de espumante.
A Espanha continua imparável. Tem uma oferta espantosa, tem
o continente e ilhas, tem uma diversidade invejável a todos os níveis o que
confere possibilidades de experiências únicas. Foi, este ano, dos grandes
beneficiários das perdas da Turquia, Egito e Tunísia. Tudo indica que assim
continuará, com brutais ocupações tanto nas Baleares como nas Canárias (a
abarrotar na Páscoa de 2017, segundo as primeiras projeções com base em
reservas reais). É um mercado maduro e constante. Por muito que tentem travar a
realidade, não há volta a dar: Madrid e Barcelona (sobretudo esta) continuarão
a ser destinos de topo nesta Europa de cidades históricas. Há quem queira
travar o “boom” de turistas em Barcelona. Há vinte anos atrás já se falava do
assunto. Não travaram nem travarão. Se tomarem medidas radicais, acabarão por
chorar para que os turistas regressem. A vida é assim. Se nas ilhas ainda se
pode admitir esse debate devido às especificidades próprias de uma ilha, nos
territórios continentais é mais complicado entrar nesse tipo de conversa.
O turismo francês sofreu muito com o terrorismo.
Interessante como a sociedade da informação dos nossos dias tem um efeito muito
rápido sobre os consumidores de viagens. Que o digam as plataformas de reservas
online, as quais sofreram uma queda
(global) impressionante de marcações nas horas que se seguiram à notícia do
ataque a Paris. Em breve as reservas retornaram ao ritmo normal, mas não em
França e muito menos em Paris (a hotelaria de 5 estrelas foi obrigada a reduzir
preços entre 25 a 45%) e posteriormente em Nice. Aliás, neste último caso toda
a Côte d`Azur sofreu quebras. O país está a tentar recuperar, mas é cedo para
tal. Ainda nem sequer se podem calcular os prejuízos causados pelos eventos em
causa, sobretudo na cidade luz. O mesmo se pode dizer sobre Bruxelas, na
Bélgica. Eis outra cidade debaixo de fogo e em forte ameaça. Ainda hoje tenta
recuperar o espaço perdido na cena turística europeia. Por seu turno, a Holanda
continua a ser muito popular com mais de 14 milhões de turistas, maioritariamente
europeus. Na última década cresceu mais de 40% e a tendência é de estabilização
em alta, sendo que Amesterdão continua no seu eterno “boom” ao ponto do
Presidente da Câmara sugerir outros locais para os turistas (?) devido a
queixas dos residentes. Imagine alguém dizer aqui entre nós – seria algo para
pegar fogo na opinião pública.
Em relação à Alemanha, uma nota especial: para os mais
distraídos, este é um grande mercado emissor (outbound) por excelência.
Ponto final. É uma verdade, mas não nos podemos esquecer que até este gigante
europeu vive o seu “boom” tranquilo, com subidas constantes. Terá passado a
fasquia dos 35 milhões de visitantes fora o fabuloso mercado interno, o qual se
fortaleceu por conta dos cancelamentos no médio oriente. Já em 2015 tinha
atingido o número impressionante de 433 milhões de dormidas. Sim, não há erro.
Talvez feche 2016 com um aumento de 3%. Muitos germânicos preferiram as
próprias praias dos mares do norte e do báltico do que optar por outros
destinos. Ou fazer cruzeiros, muitos dos quais nos frios mares dos países nórdicos,
algo que ajudou ao “boom” desse tipo de turismo. No total, são muitos milhões
de turistas num país em que essa atividade passou a ser considerada de vital
importância. Há quem esteja a adiar viagens para o estrangeiro também por causa
da crise dos refugiados. Daí que muitos lugares turísticos estejam a conhecer
uma inesperada expansão. Isto para não falar de “clusters” ou situações
curiosas como os norte-americanos que retornam como turistas quando só lá
tinham ido como tropas de ocupação, só para nomear um caso. Até ao recente
atentado do mercado de Natal de Berlim, a capital conhecia também um fortíssimo
crescimento de visitantes nacionais e estrangeiros. Ainda não há dados sobre as
consequências imediatas do sucedido. Em relação aos vizinhos, como a Suíça e
Áustria, acabam por beneficiar por isso mesmo, são vizinhos da Alemanha, são
ótimos destinos para viagens de curto curso. O caso austríaco merece uma
referência especial: o turismo de neve continua estável, mas há um “boom” do
turismo cultural, relacionado especialmente com a musica clássica. Salzburg é
um exemplo fabuloso: é das cidades europeias mais visitadas por turistas
chineses, se é que não atingiu já o topo. Mais uma prova que há “muitos turismos”, ou seja, todas as
experiências, todas as ofertas e possibilidades devem ser levadas em conta.
A Itália é outro caso emblemático. Um misto enorme dessa
variedade de experiências com grandes diferenças do norte para o sul. Mais um
país em pleno “boom” sendo que as causas impressionam: além do aumento de
visitantes estrangeiros, mais de 33 milhões de nacionais terão feito viagens
pela sua terra neste ano de 2016. O turista italiano decidiu “ajudar” a
economia do próprio país, inundando todos os lugares com destaque para as belas
praias ao longo do verão. Não podemos deixar de falar de Veneza, o exemplo
clássico de “gentrification”, que perdeu dois terços dos residentes em cinco
décadas por conta da completa reconfiguração da cidade à medida que a procura
crescia desmesuradamente. Crescia e cresce – os recordes de visitantes são
constantemente batidos. Vale a pena ficar de olho naquela realidade se queremos
respostas à questão fundamental que rege todo e qualquer destino e que passa
por se saber se há limites à expansão do mesmo, se há limite para o número de
visitantes, alojamento, restauração, etc… a discussão sobre o assunto,
interessante, pode-se acompanhar em #venexodus.
Mais a leste, segue a forte expansão na República Checa,
pode-se já considerar Praga como um mercado “maduro”, mas outros pontos do país
despertaram para os turistas. A Polónia tem uma forte presença alemã. A
Eslováquia, sobretudo Bratislava, é outro destino a ter em conta. Na Croácia,
temos um pequeno “boom” em pleno Adriático. A propósito, Zagreb vive uma grande
expansão, tal como Belgrado na Sérvia, sendo este último uma surpresa para
muitos. Até a Bulgária com o seu mar Negro vive momentos de glória (melhor
Verão de sempre), situação que parece se expandir em à Roménia. Em relação à
Grécia, temia-se uma queda, também devido à crise dos refugiados, mas quedas
pontuais nalgumas ilhas foram compensadas por subidas noutras ilhas gregas.
Creta, por exemplo, dá mostras de não se ir abaixo. Rhodes, porém, foi muito
afetada. Inclusivamente, importantes setores do mercado alemão substituíram,
até ver, o destino Turquia pelo destino Grécia, o que foi importante para os
locais. A Turquia foi, como sabemos, o grande perdedor. Depois de ataques
terroristas e da “intentona” chegou a ter quedas de reservas da ordem de 60%,
mas acabou por perder “apenas” um terço do turismo. Este “apenas” é muito
irónico: imagine-se o que seria se tal ocorresse no Algarve? Desde logo a
Turquia perdeu muito nos principais mercados emissores como é o caso da
Alemanha. Praticamente ficou sem o turista Russo, deveras importante. Ainda
assim cresceu num mercado…. o da Arábia Saudita!! A Turquia deve agora tentar
recuperar, mas as feridas podem levar muito tempo a curar para desespero dos
grandes operadores que estavam acostumados com receitas em euros e despesas em
liras turcas, situação que explicava o forte “boom” anterior a esta crise. Cabe
aqui uma chamada de atenção: os mercados do médio oriente devem continuar
expostos a fortes tensões políticas pelo que qualquer arremedo de recuperação
poderá revelar-se incipiente.
Em relação a outros mercados do velho continente, deve-se
falar do bom desempenho das chamadas repúblicas Bálticas ou mesmo da cidade
Russa de S. Petersburgo. Grande surpresa está a ser Lviv, na Ucrânia. As
capitais nórdicas continuam a ser bem procuradas, são mercados estáveis.
Destaque aqui para a Islândia, país agora mais “barato” em tempos de pós-crise financeira.
Há um grande “boom”, aqui sim, com crescimento em 2016 entre 25 a 30% - um
espanto. Terminando com as ilhas
britânicas, deve-se dizer que os mercados das Irlandas, Escócia e Gales
continuam em bom desempenho, tal como Londres, capital do Reino Unido. Aqui a
grande expetativa para o futuro próximo tem a ver com os efeitos do “Brexit”,
uma verdadeira incógnita. Para já, uma boa notícia para o espaço da Libra
Esterlina: Londres viu um aumento de turistas vindos do extremo-oriente e dos
EAU na ordem de 25% na comparação do 4º trimestre de 2016 com igual período de
2015 – isto quer dizer movimento em alta nas lojas e “shoppings” bem como na
excelente hotelaria londrina. Lembremo-nos ainda da oferta em expansão na
cidade. São mais 38 hotéis de topo em projeto e/ou construção, totalizando
8.500 novas camas. Até agora, o “Brexit” não foi mau para o turismo inglês.
Veremos como será mais para a frente…
Em geral, podemos falar de uma expansão quase generalizada
do turismo europeu com alguns locais a “explodirem” em alta. Os capitais
“inteligentes” estão atentos a estas realidades, não brincam em serviço. Só em
termos de dinheiros asiáticos, tivemos recentemente 1,6 mil milhões de euros em
investimentos na hotelaria europeia. Será viável? Será uma “bolha”? O futuro o
dirá. Uma coisa é certa, o mundo das viagens está em alta, tanto o “baratinho”
como o médio ou as viagens de luxo.
No norte de África, nem tudo são más notícias: Marrocos está
a começar a viver o seu próprio “boom” graças a uma relativa paz social em
contraste com outros mercados da região. A confiança é grande e a construção de
novas unidades é uma certeza para os próximos quatro anos – são 52 novos
projetos em carteira. Abaixo do Sahara, Cabo Verde vai “explodir” em alta muito
por conta de grupos internacionais como o caso do grupo RIU (ligado à TUI). São
Tomé e Príncipe, Nigéria, Ruanda (sim), África do Sul, Tanzânia, Quénia – tome
nota destes nomes, vão dar que falar. Só nos próximos dois anos devem abrir na
África subsaariana mais de dez mil novas camas turísticas.
O Dubai continua a ser o grande fenómeno contemporâneo, não
param de abrir unidades, nomeadamente de luxo. Já passou este ano o número de
cem mil quartos de Hotel, quase todos de luxo. Será sustentável? Essa é a
grande questão para o futuro próximo.
O grande “boom” continua a ser na Ásia e Ásia/Pacífico: a
Índia começa a ser um caso sério não só no “inbound” como no “outbond”,
enquanto mercados maduros como as fabulosas Maldivas (mais de 8% de subida) ou
mesmo o Sri Lanka ou a Tailândia continuam com perspetivas muitíssimo boas. Mas
o destaque vai para o Laos, Camboja, Vietname – nomes emergentes no setor do
Turismo. Aqui está mais um “boom” a ter em conta, enquanto a Indonésia comemora
um aumento de 16% de receitas em 2016 (números provisórios). Recorde-se que a
ilha de Bali sofreu há uns anos um revés igual ao da Turquia, devido ao
terrível atentado numa discoteca cheia de jovens Australianos. Hoje, está tudo
ultrapassado, sendo um mercado em alta. Isto prova que os mercados afetados
pelo Terror recuperam bem, embora possa levar algum tempo. Mas essa recuperação
é mais viável se os atentados forem um ato isolado e não se repetirem com uma
certa frequência. Destaque também para o bom desempenho lá longe na Oceânia,
tanto nas pequenas ilhas como na enorme Austrália. Neste último caso, quem
lidera o “boom” é o mercado Chinês. Aliás, a China é a grande responsável pelo
sucesso destes mercados. Foram mais 18% de turistas chineses no exterior do país
este ano, crescimento muito superior ao do PIB chinês. Ainda assim, somando
outros mercados da região, dá cerca de 10% de aumento de turistas a passear no
estrangeiro. Havendo recursos, as pessoas viajam: aquilo que era um ícone do
mundo ocidental transforma-se num ícone global. Ninguém deve, assim, sentir-se
apanhado de surpresa pelo sucesso do Turismo.
Uma palavra final para as Américas: o Canadá é muito
visitado, sobretudo por turistas internos e do mesmo continente, com destaque
para os vizinhos a sul. Por falar em Estados Unidos, apesar do enorme aumento
da oferta hoteleira (que não vai parar nos próximos anos), não se pode falar em
“boom”. É um mercado maduro, tem um turismo interno como nenhum outro, o que é
normal em qualquer país de dimensão “continental”, o qual cresce em “tandem”
com o crescimento do PIB. Seja como for, sem ser um crescimento explosivo, é
positivo, tanto o PIB geral como o do setor de viagens. Os EUA são responsáveis
pela forte procura no setor de cruzeiros, mas isto não é novidade alguma. O
México, República Dominicana, as Caraíbas em geral estão em bom plano, sendo
que o novo “boom” da região virá de Cuba. Crescerá 10% e tem muita margem para
crescer ainda mais, sobretudo se “as portas” se abrirem em força para lá da
capital, Havana. Na América central e do sul, queremos destacar a Colômbia
pós-guerra civil que vai agora ter outra “explosão”, a do Turismo. Também o
Perú parece preparado para fortes altas, sendo o Chile outro destaque. O Brasil
é apontado como uma grande possibilidade de sucesso no longo prazo, mas, de
momento, sofre uma terrível crise económica e social que inibe qualquer
hipótese de crescimento no setor, ao ponto de existirem ofertas de última hora
para o “reveillon” no nordeste em que um casal paga a viagem de uma pessoa e
ganha duas viagens. A crise é um desespero, mas melhores tempos virão ainda que
isso demore. A OCDE fala de “boom” em lugares como África do Sul, Índia, Brasil
nos próximos 15 anos, mas é preciso ter em conta certas especificidades. Muitas
vezes neste mercado, tal como noutros, é fácil adivinhar o futuro, difícil é
saber quando é que esse futuro chega. O “timing” não é desprezível quando se
trata de perspetivar os próximos tempos.
Certo é que a confiança está em alta: só os nove maiores
grupos hoteleiros internacionais são responsáveis por mais de 2.500 novos
projetos hoteleiros, totalizando mais de 550 mil novos quartos. Globalmente são
muitos mais. Se estamos em presença de investimentos com sentido perante as
boas perspetivas ou, pelo contrário, se será apenas mais uma de muitas bolhas
de investimento… o futuro o dirá. Acreditamos mais num misto de ambos conforme
as circunstâncias e os locais onde tudo isto acontece.
terça-feira, 20 de dezembro de 2016
Desconstruindo o "boom" do Turismo - parte I
Um dos temas que mais marcou o mundo do turismo e viagens no
ano que está a chegar ao fim e que vai continuar a marcar agenda no novo ano é
o do “boom” do negócio ou, melhor dizendo do “travel market” nas suas diversas
vertentes, sejam os transportes, o alojamento, as diversões, comes e bebes,
etc.. Neste texto vamos designar o “bolo” do “travel market” usando
genericamente a palavra “turismo”.
Este assunto tem sido abordado nos diversos “media”, desde
os clássicos aos inovadores, causa polémica devido às consequências económicas
ou socio-ambientais do mesmo, recorde-se o tópico que fizemos sobre outra
polémica, a da “gentrification”, a qual, em muitos casos, surge associada ao
“boom” de turistas em certas cidades. Enfim, dá azo a grandes debates, mas sobretudo
é um fator de melhoria da Economia em muitos locais, situação que pode levar a
novas “bolhas” de investimento caso se torne um fenómeno extremo. Como já vimos
no passado, não falta “miopia de capital” para levar certo tipo de
investimentos ao extremo. O fim da festa já todos conhecemos da pior maneira.
A primeira questão é: existe mesmo um “boom” de turismo ou
trata-se de uma ilusão? Esta pergunta não tem resposta imediata. É preciso
esperar uns anos para tirar conclusões sobre o que realmente se passou em
períodos anteriores. A História não se compadece com conclusões precipitadas.
Por outro lado, se não é um “boom” é algo que faz parte do “novo normal” de que
tanto se fala? Afinal de contas, como dissemos no mesmo tópico dedicado à
gentrificação, já há quase vinte anos lá no famoso Congresso da WTTC em
Vilamoura, falava-se à boca cheia de crescimento anual do turismo (em certos
mercados) da ordem de 10 a 15% ao ano ou, na pior hipótese, de 5 a 10% ao ano.
Mais uma vez se prova que é preciso esperar para ver até que se possa escrever
a História. Provou-se que nem oito nem oitenta.
Sobre Portugal, tem-se falado em “boom” generalizado. Na
verdade é conveniente lembrar que nós partimos de uma base muito baixa.
Começando por Lisboa: sempre foi uma cidade com alguns visitantes. E tanto mais
quando surge a Portela. Mas esses muitos visitantes não chegavam para elevá-la
a cidade de “turismo de massas”. A cidade levou muitos anos a crescer
moderadamente para o turismo ao contrário de outras capitais europeias. É
difícil de compreender esse atraso na medida em que a cidade tinha fatores de
atração fabulosos. Bom preço ou relação qualidade/preço nas várias vertentes.
Tinha um grau de tipicidade / autenticidade já raros na Europa. Excelente clima
e bom fator humano. Talvez não tivesse aquilo que faltava: ser a primeira
escolha de muitos viajantes. Tempos houve em que escolher entre visitar Lisboa
ou Madrid, ou Barcelona ou Paris ou Roma não era sequer assunto. Poucos
escolhiam Lisboa. Ainda por cima, voar da Europa “civilizada” para Portugal nos
tempos pré-low cost não era nada em conta. Aliás, se falarmos dos preços dos
voos intercontinentais a situação ainda é mais grave. Isto significa que muitos
viajantes podem ter tido a vontade conhecer Lisboa mas terão optado por outras
capitais. Esta situação repete-se quando se fala do Porto (de forma mais
gritante), que não teve quase nunca um número de viajantes digno da cidade que
é, repetindo-se a situação em muitos outros pontos de Portugal. Para piorar o
cenário, a rede interna de comunicações rodoviárias e ferroviárias estava muito
longe de se tornar apelativa para qualquer turista que tivesse pouco tempo para
conhecer o maior número possível de lugares. Por exemplo, Évora ainda
beneficiava dos turistas que outrora iam a Lisboa, mas a maioria teria mais
interesse em Fátima ou Sintra. Não era fácil este Portugal dos atrasos
estruturais.
Daí que os primeiros fenómenos a que podemos chamar “boom”
tenham ocorrido no Algarve. Vale a pena recordar que esta era uma região quase isolada
do país e da rica Europa. Tinha uma vivência e tradições muito suas. Um mundo à
parte, autêntica mistura de culturas antigas. Só que… era terra de boa comida e
excelente clima, quase todo o ano. Eventualmente ganha um Aeroporto
internacional que fez toda a diferença como hoje sabemos.
No mundo do pós-guerra mundial, o otimismo levou tempo a
regressar mas finalmente voltou com força. As sociedades mudaram para melhor. O
viajar, a descoberta do mundo enraíza-se na cultura Ocidental, ao mesmo tempo
que surgem as férias pagas para a maioria dos trabalhadores. Enraíza-se a
cultura de férias de sol e mar. Deve-se ressaltar que quase todos os grandes
destinos deste género no planeta foram “descobertos” pelos filhos de uma certa contracultura
“hippie”, mochileiros, “freaks”, sendo que só depois chegou o dinheiro, os
investimentos, a cultura de massas. Já tinha sido assim em Torremolinos, foi
assim também em parte do Algarve. Recuperando a ideia inicial, esta região já
tinha passado por vários “booms” (antes de muitos outros locais), à medida que
surgiram novas ofertas de alojamento, voos “charter” (fundamental neste
contexto) e novas propostas de entretenimento e experiências.
Este mercado nunca foi fácil. Há uma enorme concorrência no
chamado turismo de sol e mar. Existem locais que não sendo tão apelativos, são
mais em conta. Mesmo com pior relação entre qualidade e preço, acabam por ser
mais baratos. Outrora, era este Algarve menos concorrencial devido ao preço dos
voos, embora “barato” internamente. Por outro lado, o Algarve viveu sempre de
vários “totolotos” como a instabilidade político-militar no médio oriente, a
guerra da antiga Jugoslávia, novamente a instabilidade e o terrorismo no médio
oriente e norte de África. Isto para dizer que aqueles que associam o atual
“boom” aos problemas no médio oriente estão parcialmente equivocados.
Por exemplo, pode-se explicar os aumentos de Lisboa e do
Porto à conta da crise do médio oriente? Não, não e não. Estes mercados já
estavam a despontar à medida que a oferta de voos crescia velozmente. Basta ver
a participação das LCC (low-cost carriers) no aumento de passageiros
desembarcados no Humberto Delgado e no Sá-Carneiro.
Pode-se explicar o aumento no Algarve à conta da mesma
crise? Não, mas…
… os problemas da Tunísia, Egito e da Turquia (sobretudo
este destino) foram apenas mais um “totoloto” que contribui para os números
espetaculares do Algarve, mas não são condição para eles. A diferença é só uma:
em vez de “boom” falar-se-ia de “mini-boom”. Em vez de aumentos da ordem de 8 a
10% em número de visitantes, teríamos seguramente aumentos de apenas 4 a 6%, o
que já é muito bom atendendo ao facto de estarmos a crescer anteriormente.
Tivemos maiores dificuldades entre 2009 e 2012 mas a partir daí deu-se uma
inversão positiva, retomando-se a senda do crescimento. Repetimos: 2016 acaba
por ser excecional por somar dois fatores positivos, o crescimento natural
“casou-se” com fatores externos anómalos. Nesse sentido, a hotelaria regional
deve fechar o ano entre 17 e 18 milhões de dormidas num total claramente
superior a 4 milhões de visitantes. Isto para não falarmos dos visitantes e das
dormidas que não surgem nas estatísticas oficiais pelas razões que todos
conhecem – camas paralelas ou oficiais “off the record”. Em suma, os bons
números serão seguramente bem melhores, batendo-se recordes históricos.
Voltando à pergunta inicial: é “boom” ou ilusão?
Nem uma coisa nem outra, cremos. Não há ilusão nenhuma, os
turistas estão aí em força numa tendência de longo prazo de aumento de
visitantes e dormidas, de busca por novas experiências. Também não se trata de
“boom” porque isso só o seria se se tratasse de um fenómeno de exceção e não de
regra. Se fosse um episódio regional ou nacional e não global como é, ao ponto
de se registarem variações positivas na maioria ampla dos mercados, dos
destinos (como veremos na 2ª parte), independentemente da sua vocação como
destino. Como temos dito, esta tendência estava há muito prevista graças a
inúmeros fatores, a destacar:
- Forte aumento do rendimento disponível global; temos hoje
mais de 7 mil milhões de pessoas num planeta cada vez mais “pequeno”, sendo que
hoje existem seres humanos que têm condições para viajar como nunca antes na
história. Imagine-se como será, em 2050, quando atingirmos os 10 mil milhões de
habitantes na Terra. Atendendo ao facto do PIB global estar em crescimento (há
décadas), podemos acreditar que teremos um forte aumento global de turistas,
superior em % ao aumento populacional. Existem “opinion makers” que apontam
para o seguinte quadro: se o PIB global crescer 4% ao ano, os turistas podem
crescer anualmente entre 5 a 8% ao ano. Voltamos a ressalvar que o crescimento
não é constante, há períodos de perdas, mas este tipo de análise não se refere
ao curto prazo, não estamos a falar de 3 a 5 anos apenas, mas sim de tendências
de longo prazo.
-Facilidade em viajar no país e para o estrangeiro; este é
um fator primordial nesta análise. Não adianta haver mais pessoas e mais
dinheiro (que é apenas base de tudo isto) se não existir uma facilidade de deslocação.
Eis a decisiva contribuição para o sucesso contemporâneo desta atividade
económica (tal como de muitas outras também). Viajar deixou de ser luxo de
certas elites ou encantamento das chamadas classes médias. Camadas socioeconómicas
que nunca o poderiam fazer, tiveram acesso a viajar não só pela melhoria do
rendimento disponível como também pelo embaratecimento da viagem, da deslocação
propriamente dita. Começa logo pelo desenvolvimento das infraestruturas,
associado ao desenvolvimento tecnológico dos meios de transporte. Em todo o
lado surgiram mais e melhores rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Meios
de transporte mais rápidos, eficientes e com superior tecnologia e eficiência
energética. Exemplos práticos: custa tanto hoje um voo intercontinental como
custava há vinte anos ou custa tanto hoje um voo intraeuropeu como custava há
trinta anos. Por via da inflação, esses voos são hoje mais baratos em paridade
de poder de compra. Isto foi e continua a ser primordial sobretudo se
insistirmos em falar de “boom”.
-Internet; a facilidade de reservar tudo, desde voos,
cruzeiros, alojamentos, restaurantes, atividades, etc… tudo online! Parece
incrível como ainda hoje existem agentes económicos que não dão o devido valor
a esta realidade, a qual está só a “gatinhar”. Senhoras e senhores, ainda não
viram nada. O mundo está cada vez mais ligado apesar de tantos obstáculos. As
“viagens já viajadas” (Google maps, street view, fotos, vídeos, opiniões) não
foram, afinal, fator de inibição à descoberta de novos lugares – pelo
contrário, tornaram-se um símbolo apelativo ainda mais pujante. Não nos
esquecemos nunca de uma turista Moscovita no último verão que confessou ter
sonhado durante anos com uma viagem para ver “in loco” o que estava nas fotos
do seu “smartphone” – nada mais, nada menos do que a zona da praia da Marinha,
Benagil e arredores. Agora é só multiplicar este exemplo por milhões! Além
disso, a partilha de informação, a busca pelo melhor preço ou relação qualidade/preço
ou pela superior qualidade estão facilitadas. Sendo assim, além da viagem
clássica, planeada com antecedência, temos ainda o fator de consumo por impulso
que gera viagens de última hora, escapadinhas de fim-de-semana, “city breaks”,
entre outras, ampliando assim os gastos em viagens e lazer.
-Nova abordagem do conceito oferta-procura; sempre foi uma
verdade universal: o aumento da procura leva ao aumento da oferta. Como
exemplo: se muitos habitantes de Londres queriam tirar férias em Albufeira, a
solução era aumentar o número de voos entre Londres e Faro e construir hotéis
na zona em causa. Simples assim. Acontece, porém, que o turismo tem hoje fenómenos
muito próprios. Nestes tempos de facilidade de comunicação verifica-se
claramente que o aumento da oferta também leva ao aumento da procura. Estamos a
falar de Hotelaria, não de uma fábrica de pneus. A abertura de novas rotas
aéreas criou novas oportunidades regionais e ampliou outras já existentes. O
aumento de oferta de camas colabora para os ditos “booms”. Assim como a oferta
variada de F&B e outras experiências. Outrora, isto poderia desafiar a
lógica mas nos novos tempos a realidade é outra. A razão pela qual a soma de
ofertas de hotelaria e similares atrai mais procura é simples: essa oferta
acrescida serve de estabilizador de preços mesmo nos períodos da chamada
época alta. Sem esse acréscimo, os preços (dormida, comida, etc…) seriam
proibitivos para alguns viajantes, os quais “fugiriam” seguramente para outras
paragens. Este fator não é nada desprezível, cada vez é mais importante.
-Apetência civilizacional para tirar férias e viajar; nenhum
dos fatores acima, isoladamente ou em conjunto seria suficiente para justificar
a realidade que estamos a experimentar. Viajar é algo que começa por ser uma
decisão pessoal, um sonho de consumo, enfim uma fuga à rotina, uma
autocompensação para quem trabalhou todo um ano e que merece “esquecer” tudo
assumindo uma experiência nova. Ou mesmo a experiência do chamado “gap year”
para conhecer o mundo. Para não falar daqueles (muitos) que se tornam fiéis a
um destino adorado, ao ponto de lá retornarem todos os anos ou mesmo todos os
semestres. E nem vamos dar exemplos do passado longínquo, dos viajantes da
antiga Grécia, ou da criação dos primeiros agentes de viagens no Reino Unido do
século XIX. Falando apenas das últimas décadas, temos, então, a generalização
do turismo por via de melhores condições laborais das chamadas “massas”, em
contraste com aquilo que era atividade para elites. Desenvolve-se uma cultura
de viagens que se enraíza não só no mundo anglo-saxónico, mas também na quase
generalidade da Europa Ocidental. Curiosamente até no mundo da “cortina de
ferro” existe uma cultura de férias, embora de circulação restrita dentro do
país ou do dito bloco de países. Aos poucos, o Japão e Taiwan (Formosa) começam
a entrar em cena, devido ao acelerado crescimento, tornando-se quase tão
importantes como o turista Australiano e Neozelandês (outro exemplo das raízes anglo-saxónicas).
Mais tarde, aparece em forte o Latino-Americano (embora mais elitista), o
sul-Coreano, enfim, a R.P. da China. É verdade que são ainda muitos os casos em
que as viagens, sobretudo internacionais, não são para todos os cidadãos do
país A ou B, mas aqui o ponto é o título deste parágrafo: há uma verdadeira
apetência civilizacional para tirar férias (em contraste com a ideia de
trabalhar mais e mais), usando essas férias para viajar (sempre condicionadas
ao nível do rendimento disponível). É algo transversal às diversas civilizações,
com maior ou menor relevo.
Dito isto, não se pode negar que existem algumas delas com
maior apetência para viagens e turismo. Seja como for, a globalização do
comércio e dos negócios trouxe também uma ideia, uma visão global de padrões de
consumo e bem-estar, sendo que os que não podem alcançar esses padrões, aspiram
a chegar aos mesmos num futuro mais ou menos próximo. Nem que isso leve o tempo
de uma ou mais gerações.
Por outro lado, nos mercados há muito consolidados, existe
uma transversalidade geracional dessa apetência para viajar, para ser turista,
para conhecer o mundo. Vamos pegar aqui no exemplo dos EUA: nem toda a gente
viaja para o exterior, optando por viagens internas. Mas aqueles que já
viajavam para o estrangeiro continuam a fazê-lo. As gerações dos chamados “baby
boomers” (nascidos entre 1946 e 1964) fizeram parte da primeira grande vaga de
turismo de massas. O bom da história é que continuam a viajar, seja para novas
experiências, seja para revisitar, redescobrir locais já conhecidos. Já não têm
medo de gastar em viagens pois já não creem num futuro amargo e numa velhice
sem dinheiro. Por outro lado, temos a Geração X (conhecida como geração
perdida) que, apesar de não ter ainda as mesmas garantias de manutenção de
padrões de consumo e bem-estar, viaja e faz férias tão ou mais avidamente que a
geração anterior, provavelmente por se tratar de uma geração de empreendedores
confiantes de que o mundo passa por convulsões mas caminha para dias melhores.
Para completar esta transversalidade geracional (sem irmos mais longe nesta
fase), um destaque especial para a geração seguinte, os chamados “millennials”
(conhecida por geração eu), nascidos entre o início dos anos oitenta e finais dos anos
noventa. São, pois, pessoas que têm agora entre os vinte e os trinta e tal anos de idade. Se se pode falar de “boom” de turismo, podemos agradecer à soma
das gerações referidas com destaque para a extraordinária apetência desta
última para viajar. Vale destacar a importância desta geração para o
turismo de massas: é a primeira geração de turistas globais “en masse” – antes
os turistas eram fundamentalmente do mundo “rico”, enquanto a partir dos
“millennials” já se pode dizer que o mundo é uma ostra. É a primeira geração “digital”,
verdadeiramente urbana e com enorme consciência cívica e comunitária local e
global. São narcisistas, sim, mas mais interessados no seu ciclo de afetos do
que nas instituições clássicas. A carreira não é tudo para esta geração, a qual prefere
também “viver” – uma prerrogativa para ser consumidor ávido de viagens e
experiências. Por terem começado carreiras nos tempos recentes da “grande
recessão”, aprenderam a ser mais comedidos no grau de exigência profissional
sem perder o otimismo sobre o futuro. São hoje uma espécie de farol do “value
for money”, conceito determinante nestes tempos de viagens a baixo custo. Mais
do que voos “low-cost”, há uma cultura “low-cost” nas mais jovens gerações, a
qual marca estes tempos de forte expansão do “travel market” global.
Nesta 1ª parte abordámos os “porquês” da forte expansão desta querida atividade económica. Em breve voltaremos para falar de “onde” tal se manifesta!
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
Alojamento Local - negócio ou outra coisa qualquer?
O chamado “Alojamento local”, forma simplificada de
descrever a oferta turística não classificada já passou por muitas alterações
legislativas. O objetivo de simplificar procedimentos é nobre e é correto. De lamentar,
apenas o facto de o legislador não ser rápido e eficaz. Legisla sobre
realidades com anos de atraso. Afinal de contas, é ou não verdade que as leis
sociológicas precedem o direito positivo?
Sabemos bem sobre o que falamos. Alojamento local nas suas
diversas vertentes existe há décadas, não só, mas sobretudo no Algarve. A
explosão em Lisboa e Porto, entre outras localidades é ainda uma “criança” em
comparação com o Algarve. Só que essa onda vertiginosa, ao chegar às grandes
cidades, torna-se tema de telejornais. A parolice à portuguesa do costume não podia
deixar de atacar com força.
Este texto surge a propósito do Acórdão da Relação de Lisboa
que deu razão a uma Assembleia de Condóminos que queria impedir um dos proprietários
do prédio em causa de abrir o seu estabelecimento de alojamento local. Na
verdade, a decisão estava tomada em outra instância, mas o proprietário avançou
com uma providência cautelar para parar essa proibição, situação que foi
derrubada pelo Tribunal da Relação. Atenção, que esta decisão ainda não
transitou em julgado. Vale a pena recordar que o Tribunal da Relação do Porto
havia decidido em contrário num caso semelhante. Começamos a desconfiar que
este assunto pode avançar de modo a ir parar ao Supremo. Seria até bom, do
ponto de vista da Jurisprudência, que tal sucedesse, embora releve, mais uma
vez, como o legislador é fraco. Vejamos porquê.
O Decreto-Lei 128/2014 (alterado ligeiramente pelo 63/2015)
atualizou a legislação anterior, sobretudo com o intuito de agilizar processos
de licenciamento, incorporando na Lei novas realidades e formas de alojamento
com destaque para os Hostels. Por isso é que neste espaço nos rimos da
celeridade de suas Exas. Situações que foram contempladas na legislação já eram
realidade há mais de dez anos. Hostels já existiam no Algarve “de facto” cerca
de dez anos antes da nova Lei. Até em Lisboa existiam, embora ainda numa fase
embrionária. Seja como for, a legislação saiu e não é negativa, antes pelo
contrário, começa a alinhar o “de jure” com o “de facto”, o que é sempre de
aplaudir. E se houver correções a fazer, serão feitas sem prejuízo do espírito
da Lei. Isso é o que importa.
Mas o legislador não se revela fraco somente pelos atrasos
que vimos acima. Na anterior legislação da AL, unidades de alojamento a
turistas, quando instaladas, por exemplo, num apartamento em propriedade
horizontal (um prédio), poderiam ser legalizadas desde que a Assembleia de
Condóminos o permitisse. Inclusive, um dos documentos a apresentar na Câmara
Municipal era a Ata da Assembleia do Condomínio onde isso fosse decidido e,
recorde-se, por unanimidade. A questão é óbvia: sendo o prédio habitacional,
nenhuma fração pode ser transformada em atividade comercial sem o consentimento
dos restantes proprietários. É o que está no Código Civil e é nisso que se
baseia a Relação de Lisboa no seu Acórdão. É por isso que o legislador é fraco.
Deixou cair uma prerrogativa correta da anterior legislação. Correta porque não
entrava em rota de colisão com o Código Civil. Se o Decreto 128/2014 tivesse
deixado cair essa exigência ao mesmo tempo que a Assembleia da República
alterasse esse artigo do Código Civil, estaria tudo certo. Não o fazendo, abriu
um “buraco” legal que será agora resolvido na Justiça de uma maneira ou de outra,
a não ser que o atual Governo faça rapidamente uma revisão da Lei do AL, para
corrigir essa falta.
Os críticos desta decisão da Relação de Lisboa afirmam que
não deveria ser evocado o dito artigo do Código Civil, porque, segundo alguns,
o aluguer a turistas não é comércio, é somente turismo numa habitação que nunca
deixou de ter fins habitacionais.
Nada mais falso. Neste blog somos amplamente favoráveis a
todas as formas de alojamento, desde o parque de campismo até ao Resort super
luxuoso. Sem dúvida. Mas todos devem cumprir a legislação. É falso comparar
alhos com bugalhos. Sempre foi legítimo e não carece de autorização dos
vizinhos arrendamento de uma entidade privada a outra entidade privada sem fins
comerciais, como é o caso do tradicional arrendamento urbano para habitação
permanente. A velha relação do sr. João, senhorio do sr. José, inquilino. Ou
alugar um quarto a estudantes durante um ano letivo.
Isso não pode ser comparado ao aluguer de pernoitas a turistas.
Essa é, sim, uma atividade comercial. Voltamos a nos basear na Lei: todo o
aluguer de quartos ou outro tipo de unidade de alojamento por período inferior
a 30 dias é considerado aluguer turístico e isso é uma atividade comercial,
sujeita a licenciamento próprio, sujeita a impostos como o IVA (embora haja
regime de isenção para pequeno volume de negócio como em qualquer outra
atividade) ou o IRS/IRC conforme se trate de pessoa singular ou empresa. A
própria Lei do AL fala em estabelecimentos
de Alojamento local. É uma atividade comercial, ponto final. O TRL decidiu
bem.
As pessoas singulares não podem invocar a comparação do
aluguer a turistas com o arrendamento urbano. O Estado já fez a distinção. Ou
não? Vejam bem a declaração anual de IRS. Vejam lá se o anexo para rendimentos
da atividade de exploração de estabelecimento de aluguer a turistas não é o B? O
mesmo de outras atividades comerciais ou de serviços. É, não é? Acontece que o
outro tipo de receita aqui descrita, o de arrendamento habitacional de pessoa
singular para pessoa singular não vai para o mesmo anexo. Porque será? Porque
essa, caros amigos, não é considerada atividade comercial e por isso também não
necessita de autorização da Assembleia de Condóminos. Simples e fácil de
entender.
Querer enquadrar qualquer atividade de exploração turística num
“limbo” não passa de uma tentativa “chico-esperta” de fintar a Lei e as obrigações.
No fundo, todos temos o Airbnb dentro de nós. Essa plataforma foi pensada origalmente
para uma “partilha social”, mas já começou como atividade comercial. Quem
reserva por ela tem de pagar o alojamento, não é grátis. Então, já temos
atividade comercial com tudo o que isso implica.
Tudo bem, abra a sua casa a turistas sem cobrar: nesse caso,
não há dinheiro envolvido, não há comércio, não há turismo, são todos amigos,
não precisa de pedir nada aos vizinhos, é só paz e amor.
Ah, mas assim não ganho a vida – pois é, bom mesmo seria
ganhar a vida, meter o dinheiro ao bolso e não ter responsabilidades, impostos,
seguros, contribuições, taxas. Quem de nós não gostaria que assim fosse? Mas
como não é, todos têm de respeitar os direitos e os deveres inerentes a
qualquer atividade.
Sabemos que muitos ficarão amuados com este “post”. Temos
pena. O nosso objetivo aqui não é angariar “claques” que nos batam palmas. Nem
seguir rebanhos ou matilhas. Este blog não lança confusão. Este blog está muito
à frente. Este blog presta esclarecimentos, dá informações importantes sobre
turismo. Este blog tira dúvidas, não cria dúvidas.
domingo, 4 de dezembro de 2016
Algarve - melhor destino de praia da Europa
A 23ª edição do World
Travel Awards decorreu nas fabulosas Maldivas e com muita felicidade para
Portugal, que arrecada mais 4 prémios mundiais entre outros prémios setoriais.
A Madeira venceu de novo na categoria de melhor destino
insular, mas o nosso destaque vai para mais uma vitória do Vila Vita Parc como melhor Resort de luxo com respeito ambiental e
do Conrad Algarve, pela 5ª vez
consecutiva como melhor Resort luxuoso de lazer. Esta unidade é também o melhor
“Luxury Resort & Spa” da Europa.
Antes de avançar, destaque para a Etihad como líder das
companhias aéreas e da TUI como melhor operador turístico.
Mas, se falarmos em termos europeus, os prémios são
muitos, o que mostra que estamos todos de parabéns nestes autênticos Óscares do
Turismo Internacional. Desde logo parabéns ao Turismo de Portugal que é considerado,
pelo 3º ano consecutivo, o melhor “Tourist board”.
Destacamos: Algarve
– melhor destino europeu de praia. Finalmente o prémio que tanto almejávamos. Um
troféu que nos deixa cheios de orgulho da nossa terra, da nossa orla costeira e
de todas as belezas naturais. Parabéns a todos nós. Detalhe
importante: as Maldivas ganham o prémio mundial, mas o que importa é que o
Algarve (como um todo) era o único destino europeu entre os nomeados para esta
categoria. Isto significa que a vitória continental estava assegurada e que estamos
no “top 10” mundial da categoria. Muito bom.
Há mais: o Vila Joya
ganha o troféu de melhor Boutique Hotel da Europa. O Vila Vita ganha (de novo) na categoria de melhor “Hotel Villas”
através da sua marca Private Villas at Vila Vita Parc.
O Epic Sana Algarve
é agora o melhor do velho continente na categoria “Meetings, Incentives, Conferences and Exhibitions Hotel”, destronando aquele que
já se acostumara a vencer, ou seja, o Radisson Royal de Moscovo.
Parabéns
ainda ao Monte Santo Resort que
vence na categoria de melhor “Romantic Resort” da Europa, a exemplo do que já
havia ocorrido no ano passado.
Há
mais prémios portugueses na Europa e no mundo, bem como outros prémios
algarvios na secção “Portugal”. É só ver tudo aqui e ter paciência para
explorar a galeria de prémios. Vale a pena: https://www.worldtravelawards.com/winners/2016/world
Novamente
os parabéns aos vencedores. Esperamos por ainda mais prémios nas próximas
edições. Os profissionais envolvidos bem o merecem.
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