Apesar de nos encontrarmos na época baixa ou superbaixa,
sinal de férias para muitos hoteleiros que vão esperando pelas férias dos
futuros hóspedes / clientes, há sempre novidades importantes que merecem
partilha.
Em primeiro lugar, registe-se a deceção de vários colegas
envolvidos no “travel market” com os mercados de inverno em destinos de sol e
praia. Há quem nunca tenha tido ilusões. O “boom” do turismo não se aplica à
época baixa, quando a apetência para viajar para certos destinos é também ela baixa ou
quase nula. Ou não haveria época baixa. Os meios de transporte escasseiam no
inverno (leia-se LCC com menos rotas) e as condições meteorológicas levam ao
desânimo, seja pelas dificuldades nos aeroportos, seja pelas condições no
destino. A Europa é o que é. Mesmo assim, ainda que haja um aumento de turistas
na época baixa, a base de comparação é tão baixa que qualquer aumento é pouco
percetível como tal. Existem, ainda assim, mercados mais ou menos tradicionais
de inverno, que vão fazendo o seu caminho. Um dos casos a nunca esquecer é
exatamente o do Golfe. Apesar dos investimentos (miopia de capital)
desenquadrados da realidade, como se o Golfe fosse o eldorado do inverno, como se a concorrência entre campos e resorts
não tivesse provocado a compressão de preços, como se o Dubai, entre outros
destinos, nunca tivessem visto a luz do dia, dificultando ainda mais a política
de vendas, apesar de tantas dificuldades, o Golfe é sempre um segmento a ter em
conta, mais ainda no inverno que oferece poucas alternativas fora das
realidades das grandes cidades e espaços históricos.
Outro setor que cai no esquecimento (se é que alguma vez de
lá saiu) é aquele que é para muitos o patinho feio do Turismo: o Caravanismo.
Quem andar a passear neste inverno frio por este Algarve repara seguramente na
quantidade impressionante de autocaravanas em tudo o que é parque, homologado
ou não. Cada vez são mais viaturas. Isto é mais do que uma viagem, isto é um
estilo de vida. Claro que isto não é interessante para as unidades de
alojamento. É bom para supermercados, sobretudo os que oferecem um posto de
combustível. Porém, com a promoção certa, é possível gerar algum benefício de
inverno para restaurantes, cafés e bares. Há que estar atento e à frente das
tendências. Só para dar uma ideia desta moda, a feira de Caravanismo de
Estugarda teve 70 mil visitantes nos primeiros três dias. Foi já este mês,
tendo-se concluído que é mais uma frente em que se batem todos os recordes.
Apesar de todos os receios, ataques terroristas e demais
contrariedades, as viagens
internacionais para países estrangeiros voltaram a aumentar em 2016 segundo
números provisórios da UNTWO (organização para o turismo das Nações Unidas). A
subida em relação ao ano anterior (já havia sido ano recorde) terá sido de
3,9%. Cerca de mil duzentos e trinta milhões de seres humanos de todo o Planeta
viajaram ao estrangeiro. Quase 20% da população mundial. Um sucesso já
explicado neste blog. O nosso “target” continua a ser os mil e quinhentos
milhões a breve prazo. Se tudo correr bem, tal deverá ocorrer antes de 2025.
Vale a pena recordar que estes números significam o dobro dos números de 1990 –
foram precisos 25 anos para duplicar o número de viajantes para o estrangeiro.
Devido a uma série de fatores relacionados com a expansão económica, não cremos
que haja outra duplicação em 25 anos. Porém, não será impossível chegarmos aos
dois mil milhões num espaço de duas décadas ou algo assim.
São estes números que nos trazem otimismo. Em 2017 espera-se
ainda uma expansão a nível mundial entre 2 a 4% - só as reservas online de
viagens deverão crescer cerca de 5% segundo a média de alguns estudos mais
conservadores. Podemos adiantar que certas unidades hoteleiras da Península
Ibérica estão já em Janeiro com impressionantes níveis de reservas para
períodos como a Páscoa ou os feriados de Junho (datas próximas em Portugal e
Espanha), incluindo unidades com ocupações já acima dos 95%.
Mas se o mundo online cada vez mais tem maiores quotas de mercado,
o mundo offline reage. Na verdade, a grande reação dos operadores que
sobreviveram às mudanças foram precisamente os que aceitaram e adotaram as
ditas evoluções. Hoje falamos de um operador norte-americano, a Tourico
Holidays, que anunciou há poucos dias a sua “global hotel trends report for 2017”.
Surpresa das surpresas, temos um estudo feito em 4.500 destinos, relativo a 80
mil propriedades turísticas.
Maior surpresa: os primeiros dados de 2017 mostram um
aumento global de 28,7% (?) no número de reservas. Turistas dos EUA e da União
Europeia aumentaram as reservas em cerca de 28% em relação ao ano anterior. Um
espanto, tendo em atenção os números recorde do ano anterior. Mais do que um “boom”,
isto é a confirmação do turismo como grande motor de crescimento da economia
global. Nos próximos anos teremos seguramente uma recessão como muitas ao longo
da história. Mas o importante aqui é salientar a tendência de longo prazo.
Continuamos a acreditar em crescimento de visitantes e de receitas para 2017
também em Portugal, embora isso não se manifeste no 1º trimestre do ano, até
porque, desta vez, o calendário da Páscoa cai só em Abril. A grande força
deve-se manifestar nos segundo e terceiro trimestre, podendo se expandir ainda
para parte do último trimestre.
Dois países que não estão a crescer (considerando o total do
território) neste setor: Reino Unido e França, por razões distintas. Porém,
como países emissores, continuam a crescer, sendo a Península Ibérica uma zona
amplamente beneficiada. Se juntarmos a isto mercados emissores como o Benelux
e a zona germanófila, temos uma excelente base de clientes e uma rampa para
manter o crescimento atual.
E o nosso “amigo” O`Leary, CEO da Ryanair, a famosa LCC que
já se tornou a maior companhia aérea europeia, destronando a Lufthansa, veio
dizer agora que o acordo entre a gigante alemã e a semifalida Air Berlin não
passa de uma anedota. Irritado pela proibição de compra (em 2011) da rival Air
Lingus, devido à possível cartelização, vem agora anunciar que vai falar com as
autoridades da UE sobre o negócio alemão. No mínimo, vai agitar as águas. Vale
lembrar que a “Ryan” transportou 117 milhões de passageiros em 2016, aumento de
15%. Entretanto, a Lufthansa não dorme em serviço, consolida a marca Eurowings
para esse combate “low-cost”. Agora, vamos ter bilhetes múltiplos de dez
viagens. Qualquer turista que conhece o “metro” de Paris ou o “tram” de
Amesterdão sabe bem como funciona: compra-se um rolo de dez bilhetes para
efetuar precisamente dez viagens com desconto. Agora vem a Eurowings com esse sistema, que
deve ser inédito em termos de aviação comercial. Seja como for, é mais uma
ideia, um incentivo para ajudar ao aumento das viagens e turismo.
Para terminar por hoje, números do Eurostat agora revelados
sobre o turismo na União Europeia em 2016. Embora sejam valores provisórios, o
número de dormidas em hotelaria no território da União atingiu quase 2 mil oitocentos
e cinquenta milhões, subida de 2%. Confirmam-se as quedas de dormidas referidas
acima em França e Reino Unido. Ainda assim, os destinos favoritos da EU continuam
sendo Espanha, França, Itália e Alemanha (já havíamos referido estas situações
no tópico sobre o “boom”). Os números finais virão depois, mas isso pouco
importa. Já sabemos que o balanço é positivo. O que vale é a continuação do
crescimento para os próximos tempos. Nesse particular, como vimos, as
perspetivas continuam positivas.