Ocorreu esta semana mais uma Conferência, a 15ª do
hostelworld.com, famoso portal dedicado ao turismo jovem, de “backpackers”,
símbolo do “low-cost”, de um estilo de vida livre, enfim da bonita vida dos
Hostels.
Apesar de se ter perdido um certo “feeling” nos Hostels,
hoje cada vez mais padronizados no seu estilo, cada vez mais um negócio puro e
duro e cada vez mais longe da ideia inicial de “social travelling”, há que
fazer justiça – justiça que as autoridades de turismo nunca fizeram. Lá atrás,
nos momentos de crise financeira, nos momentos em que a crise atingiu o
turismo, foram os Hostels e alojamentos alternativos que relançaram a
atividade, com números positivos de ocupação, crescendo quando todos os outros
estavam em estagnação. Pode-se dizer, por desconhecimento de causa, que tal só
se passou, por se tratar de uma alternativa barata em tempos de crise. É curto
afirmar isso. Isso era real para muitos viajantes, mas o essencial era o gosto
pela vida na estrada, no comboio, no avião. Conhecer uma imensa variedade de destinos
tão rápido quanto possível. Para muitos, uma reedição da volta ao mundo em
oitenta dias. Mas sempre tendo em atenção o espírito comunitário, o desejo de
fazer novos amigos, a partilha de conhecimentos, informações e experiências.
Esse era o espírito dos anos noventa, o qual ainda esteve em crise, mas foi
reeditado ainda com mais força após o ano 2000, sobretudo com o surgimento da
Net de banda larga e a popularização das redes sociais.
Atento a isto, o glorioso sr. Feargal Mooney, (ver
foto abaixo, cortesia tourismfirst.org) sócio de um
clássico Hostel de Dublin, Irlanda, decidiu fundar um portal de reservas
on-line dedicado a Hostels e outros meios de alojamento em conta, hoje uma OTA
mundialmente reconhecida. Começou por se dedicar às ilhas britânicas, mas num
espaço de uma década tornou-se o maior portal do género do mundo. Ainda hoje,
apesar da concorrência de portais generalistas de reservas com muito mais
meios, continua a ser o maior dos Hostels, fruto do aumento de capital da
empresa, parcialmente adquirida por um fundo de investimentos, além da
posterior aquisição dos maiores concorrentes. O que restou, não tem expressão
em comparação com o Hostelworld.
Neste comentário, o que interessa recordar, são as famosas Conferências
de Dublin, tal como a que terminou esta semana. Além do espírito comunitário
que unia o “staff” dos Hostels participantes (vai gente de todo o Planeta),
além dos eventos sociais paralelos com muitos “drinks” e conversas
intermináveis sobre viagens e ideias, estas conferências eram autênticas ações
de formação para a Hotelaria moderna, nomeadamente a transição para o chamado
turismo 2.0 e mais tarde para o 3.0 –
naquelas salas de reunião, naqueles painéis de discussão, sempre se esteve
muito à frente, razão pela qual o sucesso foi facilmente garantido. Como é bom
hoje lembrar, só para dar um exemplo, do discurso entusiasmado de um amigo do
Google, há muitos anos, falando sobre SEO, de quão importante isso se ia tornar,
do espanto do auditório perante esses novos conceitos. Ou a importância das “mobile
reservations”, algo que muitos hoteleiros ainda não interiorizaram como
presente, achando que isso é coisa do futuro. A larga maioria dos Hoteleiros
clássicos ainda nem sequer tinha noção de assuntos que foram tratados nessas
Conferências. Nesse particular, diga-se, ser pioneiro valeu e rendeu para quem
estava no terreno.
Quinze anos depois do primeiro evento, pode-se dizer que já
não é como dantes, já não há grandes novidades que nos possam surpreender, o
que é fruto de uma globalização, generalização dos chamados “conhecimentos
avançados”.
Mas há algo que nunca se perde nesta iniciativa: o caráter
social, o “networking” e os prémios para os melhores Hostels do mundo, os
chamados “Hoscars”. Vale a pena lembrar que foi graças a estes prémios e não a
outros, que os Hostels portugueses ganharam a fama nacional e internacional que
muito haveria de contribuir para o turismo português, para mais emprego e rendimento.
Terminamos assim esta modesta homenagem com o destaque dos Hostels lusitanos
que ganharam menções nesta edição de 2017:
Na categoria de melhor Hostel de pequena dimensão (até 75
lugares), o famoso Travellers House de Lisboa ficou em terceiro lugar. Vale a
pena lembrar que o Travellers foi durante muitos anos o melhor do mundo.
Agora o melhor ocorreu na categoria de melhor Hostel de
média dimensão (até 150 lugares).
1º - Home Lisbon Hostel (também o 3º melhor da Europa na
tabela geral e 1º em Portugal)
2º - Yes!
Lisbon Hostel
3º - Lost Inn Lisbon
E ainda ficaram outros três no “top 10”. Fabuloso.
Até na categoria seguinte, de Hostels até 350 lugares, temos
um português, em 10º lugar, neste caso o Tattva Design do Porto.
Na categoria de melhor ambiente (social), temos o melhor do
mundo em Lisboa, o Goodmorning Lisbon, outro clássico da capital portuguesa.
Houve tempos em que quase só ganhavam Hostels deste país. Diz-se
até que foram mudados os prémios e alguns critérios para dar hipóteses aos
outros. Não temos dúvidas de que terá sido assim.
Estão todos de parabéns por terem conseguido mostrar que, em
Portugal, as pessoas anónimas é que fazem o turismo ser o que é. São as pessoas
reais, comprometidas com o turista, que fazem com que sejamos um destino cada
vez mais apreciado. Os Hostels, antigo patinho feio do turismo, mostraram como
se faz e, sobretudo, como se faz bem. Mas o grande vencedor é sempre o
Hostelworld, na figura do Feargal, aquele que acreditou que estava certo quando
todos os outros caiam na hesitação, na descrença. Foi bom para todos.
Que assim continue o sucesso!
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