quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Turismo a mais? Um video que fala desse assunto!!

Somos constantemente confrontados com a ideia de que já há turismo a mais em Portugal. Amarga ilusão. ainda estamos a anos-luz de distância de uma situação dessas. Só existe uma miragem de turismo a mais e em apenas algumas semanas do ano

terça-feira, 7 de maio de 2019

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Mais turistas? Crise da aviação europeia diz-nos que não dá

Fica o primeiro video a "sério" do nosso canal, depois da apresentação no "post" anterior.
Esperamos que divulgue o turismo 3.0 e o canal "arturismo" no YT.


segunda-feira, 1 de abril de 2019

Nova fase da crise da aviação europeia ?

Depois de várias companhias aéreas, LCC ou FSC, depois do atribulado processo Air Berlin, depois de tanta coisa estranha, está aí a Islandesa WOW a dizer adeus aos ares e a Easyjet a dizer olá a prejuízos.

Recorde-se que as grandes LCC viveram de uma bonança que advinha do "boom" do turismo e de petróleo barato. Agora, nem uma coisa nem outra, pelo que a Easyjet anunciou a possibilidade de prejuízos para o primeiro semestre de 2019 na ordem de mais de 300 milhões de euros.

O assustador é o motivo: fraco volume de reservas, não só no último inverno (o inverno IATA acabou há dois dias), mas também a se prolongar pela primavera corrente. O padrão é conhecido por quem trabalha com reservas. As pessoas não estão a reagir sequer às promoções, pelo menos, da maneira que seria normal. Nesse caso, as possibilidades de prejuízo são assustadoramente reais.

Vamos ver como segue a história. Não há, agora, espaço para muito otimismo.

Para mais ajuda, o maior grupo deste continente, a Lufthansa, vê-se a braços com ameaças de greves setoriais para a temporada de verão. Os sindicatos independentes juntam-se aos seus colegas mais influentes nas reivindicações salariais. Isso não são as melhores notícias num quadro que se prevê mais complicado do que foi nos últimos cinco anos.


Precisamente numa altura em que as coisas prometem "aquecer", chegou a altura de anunciar novidades. O vosso blogue turismo 3.0 vai passar a ser também um "vlog". É mais interessante, é mais desafiante, espero que seja agradável para os interessados no turismo. Haverá sempre temas importantes a abordar.

Até breve.

segunda-feira, 25 de março de 2019

Já são mil e quatrocentos milhões de turistas internacionais


Lembram-se destes dados recentes da Organização Mundial do Turismo das Nações Unidas, através do seu anuário de estatísticas? Pois bem, foram os números de 2018, que são finais. Passou de 1.400 milhões o número de turistas do mundo inteiro que se deslocam (pernoitas) ao estrangeiro, incluindo-se aqui todos os motivos possíveis para a viagem. Não estão incluídos, claro, trabalhadores vizinhos que cruzam fronteiras diariamente, ou mesmo “turistas” que não pernoitam, limitam-se a passar a fronteira vizinha para jantar fora ou mesmo só para beber um café, adquirir bens de consumo mais baratos, etc… se assim não fosse muitos “turistas” portugueses teriam de ser contabilizados só por abastecerem combustível em Ayamonte.

Agora que estamos esclarecidos, há que referir que este número só era esperado em 2020 (previsões anteriores) ao mesmo tempo que se esperava um número bem maior em 2030, cerca de 1.800 milhões. Curiosamente, a previsão de 2020 fica obsoleta dois anos antes e a de 2030 não muda. Mas há quem diga que chegaremos a esse ano distante com dois mil milhões de turistas internacionais. Diga-se que isto significaria um crescimento médio mundial de 3% ao ano para que tal cifra fosse atingida. Pode-se considerar, então, dois mil milhões de turistas um objetivo razoável se nada de muito estranho ocorrer entretanto.

Olhando para o gráfico que publicamos com este texto, é algo razoável atendendo ao que se passou nos últimos anos. O crescimento global do turismo atingiu 5.6% em 2018 contra impressionantes 7% em 2017. Mesmo que ocorra uma “normalização” do crescimento, os ditos 3% ao ano são exequíveis mesmo num quadro de crescimento económico global inferior ao atual. A própria OMT prevê para 2019 um crescimento global entre 3 a 4%. A tendência histórica mostra que em longos períodos, o crescimento do turismo internacional tende a ser superior ao crescimento económico. Isto tem sido verdade não só globalmente mas também por continentes ou regiões.


É curioso verificar as diferenças precisamente entre regiões do mundo: a Europa está em linha com o crescimento global, embora com altos e baixos. Continua a ser dos destinos mais apetitosos para europeus (é fácil e barato ser turista dentro do próprio continente) e para a maioria dos restantes. Deverá, pois, continuar a crescer, embora com números ligeiramente mais modestos. É o regresso à média histórica, o que será normal, tratando-se de um mercado mais “maduro” do que a maioria dos demais. A região Ásia-Pacífico, muito por conta do turismo Chinês está a ultrapassar todas as expetativas, podendo afirmar-se como um “grande” do turismo mundial. Se é verdade que há mais gente a visitar a China, também é verdade que há mais chineses a visitar países estrangeiros, sobretudo naquela região, a qual inclui Austrália e Nova Zelândia. Em breve, o mercado internacional chinês poderá representar mais pessoas do que alemães e britânicos juntos, embora o volume de negócios por cabeça ainda não seja comparável.

As Américas, como tem sido referido por aqui, estão a ser o parente pobre deste crescimento. Mas essa tendência poderá mudar à medida que os EUA recuperam, assim como países latino-americanos que entraram em crise. Para já, nada se veem grandes mudanças de curto prazo, mas a reação será grande por parte dos responsáveis do continente. Por sua vez, a África está finalmente a despontar. Há muito que aqui no nosso blogue falámos de turistas a visitar novos destinos. Não se trata apenas da recuperação da África do mediterrâneo e das ilhas, estamos a falar de destinos completamente novos, como o caso do pequeno Ruanda. Em qualquer caso, a chamada África “negra” tem uma base ainda tão baixa como termo de comparação que qualquer subida tende a ser bombástica. Os dois últimos anos são a prova disso mesmo. Não há dados suficientes sobre o continente que permitam tirar grandes ilações, mas a tendência está muito boa para o longo prazo. Há fortíssimos investimentos hoteleiros em todo o lado, de Cabo Verde às Seychelles, do Egito à África do Sul. Um pouco por todo o lado, tirando as óbvias exceções por razões políticas e militares. Há desigualdades a ter em conta mas, como um todo, é um continente cada vez mais na rota do turismo.

Que dizer da grande surpresa chamada Médio Oriente? Atendendo às circunstâncias, até que o crescimento não era mau de todo, mas o que se teria passado em 2018? 10% de crescimento só pode querer dizer uma coisa: as tensões geopolíticas associadas à região estão a ser substituídas por uma nova esperança, com mais crescimento de negócios, algo que já se reflete nos números das chegadas internacionais. Aquela região é uma caixinha de surpresas, normalmente nem sempre agradáveis, razão pela qual devemos ser cautelosos a efetuar previsões. Tudo pode, ainda assim, correr pelo melhor, surpreendendo-nos positivamente. Fica, pois, o aviso à navegação: a continuar assim, os destinos da Europa do sul e do sol, poderão perder alguns clientes para aquele destino.
Os dados estão lançados. Há condições objetivas para a continuação de crescimento um pouco por todo o lado. Os dois últimos anos, globalmente falando, foram os melhores desde 2010 o que prova que o mundo recuperou definitivamente das crises que o assolaram, sobretudo entre 2008 e 2011. Estes números não são válidos para todas as regiões, mas são um fator de otimismo para o setor das viagens e turismo. Há até países que crescem (no turismo) sem qualquer interrupção desde 2009 como é o caso da Alemanha. Uma nação fortemente industrializada tende a ser esquecida neste contexto, mas o que é facto é que a mesma é muito mais forte do que o cidadão comum pensa, tendo batido recordes sucessivos, ao ponto de se pensar em criar por lá um ministério do turismo. Surpresa? Só para os desatentos.

Também não será surpresa o facto de, dentro do continente europeu, existir uma certa disparidade de números: quando se fala em 5.6% de aumento em 2018, isso não corresponde a toda a europa. A parte ocidental cresce mais do que a oriental com exceção dos países bálticos. O sul cresce mais do que o norte, com esse destaque não só para Portugal, como Espanha e Grécia. Os destinos de sol e praia são sempre apreciados. Estas diferenças no interior do continente deverão, porém, ter tendência para serem atenuados à medida que o destaque dos turistas for migrando para outras formas e experiências. Daí que as grandes cidades, as cidades e locais históricos e outros destinos que proporcionem experiências marcantes têm, em conjunto, condições para ultrapassar o crescimento médio geral.
A surpresa para todos nós é outra: quem está a aumentar mais os gastos em viagens para fora do próprio país? Não são aqueles que a maioria de nós poderia pensar!
Apesar da fraca performance económica dos respetivos países, são os Russos e os Franceses aqueles que mais aumentaram os gastos com viagens ao exterior em 2018, respetivamente em mais 16% e 10%, seguidos dos Australianos, estes com 9% a mais. A seguir, menor surpresa, são os norte-americanos (mais 7%) e os sul-Coreanos (mais 6%). A maioria destes aumentos alimentou as subidas nas próprias regiões. Franceses a gastar muito na Europa ou Coreanos a gastar muito na região Ásia-Pacífico. Já os turistas dos EUA foram mais “globais” nos gastos e os Russos são dos maiores responsáveis pelas subidas (em proveitos) no médio oriente. Recorde-se como quando, recentemente, a Turquia vivia uma implosão, Russos e Sauditas foram uma espécie de “salvadores” desse destino.
Curiosamente, nem sempre o que é bom para um é bom para todos. O que significa isto para Portugal?

Portugal tem hoje várias realidades turísticas que já não podem ser ignoradas. Comecemos pelas ilhas. A experiência de visitar os Açores não será certamente a mesma de quem visita a Madeira. O último era e será um arquipélago tradicional, enquanto o primeiro será sempre um lugar para experiências únicas. O que têm ambos em comum? Poucas coisas. Agora ambas têm voos “low cost”. É mais um exemplo de que, sem eles, não há crescimento explosivo no turismo. O Porto e a região norte sempre tiveram o chamado “turismo galego” em particular e do norte de Espanha em geral. Mas com voos LCC a história é outra. Isso acaba por beneficiar toda a região norte e centro, pois mais gente em viagem significa mais gente à procura de coisas diferentes. Em Lisboa, é marcante o facto de ser a “casa” da TAP. Para não falar de inúmeras outras FSC. Mas nada disso seria completo sem a ajuda dos voos de baixo custo. Os negócios que se desenvolvem na capital e arredores não teriam a alavancagem atual sem o número de voos e pessoas que utilizam o aeroporto. Aliás, nem a Portela ficaria obsoleta rapidamente. Até o Alentejo já merece uma palavra. A parte da região mais próxima de Lisboa, tal como as partes raianas há muito que despontaram o interesse de turistas e investidores. De momento, tudo leva a crer que é uma tendência ainda com pernas para andar. Se é uma moda passageira como a dos “montes alentejanos” de fim-de-semana, é algo que só o futuro dirá de sua justiça.

O Algarve é hoje a realidade mais problemática. Alvo de enormes investimentos ao nível de empreendimentos de toda a espécie e categoria aos quais acrescem impressionantes investimentos em AL (mais de 31 mil licenças emitidas na região nesta data), repartindo-se por apartamentos, moradias e outros, a região está mais sujeita aos perigos de um arrefecimento da economia ou do “desvio” de turistas para outras paragens. Quando existem investimentos a contar com um certo crescimento médio anual, é bom que ele ocorra mesmo, caso contrário, a faturação estagna ou sobe residualmente causando aquele desconforto do bolo que tem de ser dividido por mais convivas do que o previsto. O passado recente já mostrou o que pode acontecer em caso de investimentos desajustados, pendurados em demasiado crédito. Os ativos caem nas mãos de fundos de recuperação, situação que não é ideal para a estabilidade dos ditos empreendimentos. Ainda assim, é bem melhor do que portas fechadas. Com a explosão do AL, como irá o mercado reagir a uma baixa do crescimento ou mesmo a uma estagnação do mesmo? Essa experiência é um mundo totalmente novo para todos. A grande incógnita é mesmo essa: como será a reação a uma realidade em que o mercado só cresce a 3% ao ano e a oferta cresce a níveis superiores? Iremos assistir a uma baixa generalizada de preços e qualidade? A uma guerra de preços entre certos empreendimentos e AL?

A grande realidade é que, apesar de crescimentos ditos “explosivos”, o número de dormidas só cresceu cerca de 2% em 2018, enquanto o RevPar sobe pouco acima de 1.5%. Isto mostra que o número médio de dormidas continua na tendência contrária à ideal e mostra também o facto a que aludíamos atrás, mais quartos disponíveis na totalidade podem significar uma queda média de preços. As primeiras indicações para 2019 mostram que além do fim do “boom” poderemos assistir a uma estagnação das dormidas e a uma diminuição importante do crescimento das receitas.
Em suma: o turismo é um setor de crescimento de longo prazo, como todos sabemos, mas teremos mesmo nuvens negras no curto prazo, sobretudo nos destinos mais maduros.

sábado, 26 de janeiro de 2019

Ainda sobre a dissimulada taxa de estadia....

Este assunto dá pano para mangas. O tópico que fizemos sobre o mesmo foi longo, mas havia que apresentar alguns argumentos pertinentes contra a mesma, alguns já amplamente debatidos, outros nem tanto. Há sempre a necessidade de se ir ao fundo da questão.
E a questão da legalidade?
Houve uma tentativa de taxa em Lisboa, a da proteção civil, que foi "chumbada" pelo Tribunal Constitucional, de modo que houve até devoluções de verbas já cobradas aos contribuintes.

E esta taxa turística (estadia)? Poderá seguir o mesmo caminho? Há já queixas no ar!
Como não somos juristas nem temos qualquer pretensão a sê-lo, nem queremos enveredar para a asneira e para a boçalidade, vamos socorrer-nos de um brilhante artigo já com dez meses mas sempre muito pertinente e útil de Vital Moreira, figura acima de toda a suspeita, quando se trata de assuntos que podem ferir a letra e o espírito da Constituição.
Para quem nunca leu, fica aqui a ligação à web do dinheiro vivo.pt

https://www.dinheirovivo.pt/opiniao/opiniao-nem-taxa-nem-turistica

Para que os nossos autarcas e respetivos séquitos possam refletir em consciência!!


quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Flyzoo Hotel - China - uma nova experiência

Para quem não sabe, o grupo Alibaba é o gigante chinês e mundial do comércio eletrónico.
Muito bem, o investimento hoteleiro mais moderno do gigantesco grupo é o hotel FlyZoo, na cidade de Hangzhou, num total de 290 quartos.
O que é que isto de especial?
Aparentemente, nada, mas se dissermos que esta unidade é a incubadora de uma nova experiência de robotização e inteligência artificial direcionada para unidades hoteleiras, do grupo e não só, as coisas mudam de figurino.
A finalidade é a de se saber a reação dos hóspedes a este modelo de hotelaria, com cada vez menor intervenção humana, num mercado onde o consumidor assume rapidamente toda e qualquer inovação tecnológica. Sabe-se que no Japão este tipo de experiência deu resultados "nim". Uns a favor, outros contra. Na China e noutros locais poderá ser diferente.
Gostaria de receber toalhas limpas e "cocktails" de um robot em forma de aspirador ?

Veja esta reportagem fantástica da Reuters (só os primeiros minutos do video abaixo)
https://www.reuters.tv/v/PXa2/2019/01/23/alibaba-s-new-hotel-runs-on-robot-hospitality

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Uma Rosa e muitos espinhos ou a taxa do nosso descontentamento


Muito já se falou sobre a introdução de uma taxa turística no Algarve, sabe-se há muito que foi em sede de reunião da associação de municípios do Algarve que a decisão foi tomada mas não foi unânime pois desde o início o município de Silves não apoiou nem gostou da decisão, fazendo logo constar que não pensa sequer em introduzi-la no seu próprio concelho. Pode-se dizer, claro, que o facto da Câmara Municipal de Silves ser liderada por um partido político (neste caso coligação) que é uma exceção à regra, uma vez que no Algarve todos os outros concelhos são liderados pelo PS e pelo PSD, estaria a tentar fazer política “politiqueira” à conta desta questão, mas também se pode dizer que o concelho de Silves está a tentar reabilitar um pouco a sua imagem através da não aplicação da taxa, recuperando assim Armação de Pera como um importante destino, além de chamar a atenção para o interior do concelho, zona também com potencial para se afirmar como destino de investimentos. Como tal, a taxa turística não seria uma boa ideia. Parabéns a Silves, ditos por quem nem sequer é apoiante dessa coligação ou de outros partidos.

Independentemente dessa dissonância entre essa cidade e o resto da região, é preciso dizer que a taxa turística só foi pensada por cá não pelo facto de ela já existir nalguns países, mas apenas (mais uma vez isto é o típico português) só porque Lisboa e, posteriormente, o Porto a introduziram. Simples assim. Não é que o valor pensado para a mesma, de € 1,00 (valor mínimo) por dormida a cobrar durante apenas um certo número de noites da estadia (pelo menos 5 a 7 noites, talvez de março a outubro), seja algo caro ou inibidor para os turistas. A questão aqui nada tem a ver com o preço, com o valor da taxa por assim dizer.

A problemática surge devido ao sinal que estamos a passar para fora, leia-se para os turistas individuais, para os operadores, enfim, para os envolvidos no chamado “trade” turístico.
Basta fazer uma pesquisa na internet para chegarmos à conclusão que, por exemplo, muitos dos turistas britânicos que visitam destinos um pouco por toda a Europa não gostam da ideia da taxa turística, causando até uma certa confusão a maneira como ela é paga. Este exemplo não é o único, claro, há mais exemplos de pessoas que estranham, pois já pagam muitas “alcavalas” só pelo simples ato de viajar. Sabemos muito bem que a taxa turística foi uma criação de cidades e regiões que necessitavam claramente de sinalizar que muitos dos seus residentes estavam “fartos” de turistas e tinham até razões para isso. Os grandes exemplos são mesmo Paris, Barcelona, Amesterdão e a massacrada Veneza, só para citar os mais emblemáticos. Obviamente que estas e outras cidades com dinâmicas económicas que não passam só pelo turismo, como sucede na maioria das capitais europeias, também poderão introduzir essa taxa (ou já o fizeram), até para demostrar aos próprios residentes que as autoridades estão atentas e que não desejam que a sua cidade se torne uma espécie de Disneylândia. Nestes casos, ainda que a muito custo, poder-se-á entender a aplicação deste tributo. Ainda assim, as taxas não resolveram nenhum problema relacionado com o “overcrowding”, o que já de si diz bem da utilidade das mesmas…

Só que a grande questão para nós é outra, completamente à margem. O que é que nós no Algarve temos a ver com o que atrás foi dito? Porque é que nós temos que ser eternamente uma espécie de “Maria-vai-com-as-outras”? Podemos nós, porventura, nos compararmos a grandes cidades que têm diferentes fatores de atratividade económica e social e, como tal, vivem bem sem turistas e não necessitam claramente desses possíveis exageros? Seremos nós no Algarve uma espécie de arquipélago ecologicamente sensível, em perigo, que deve evitar e restringir o turismo? A esse propósito, ainda recentemente observámos como os municípios apoiaram os contestatários à exploração do petróleo no Algarve, contestação essa que se aceita perfeitamente por poder, potencialmente, colocar em causa o atual “status quo” económico e social da região ou de uma parte da mesma. Assim sendo, que sentido faz declarar “amor ao turismo” para depois se tomar uma medida que sinaliza exatamente o contrário?

A grande utilidade da taxa turística não é, ao contrário do que se diz, a da obtenção de verbas para ajudar a sustentabilidade ambiental do local A ou B. Ou para compensar custos acrescidos por via do aumento do movimento de pessoas. Nem sequer para grandes eventos culturais dedicados à época balnear. Veja-se o que Lisboa fez. Investiu em obras de um monumento nacional, algo que não lhe cabia, pois tal deveria ficar a cargo da administração central. Desviou verbas para o palácio nacional da Ajuda, só para dar um pequeno exemplo. Para não falar do financiamento da Web Summit. A grande verdade é que este tipo de atitude já vinha de fora. Na sequência das crises financeiras, que como todos recordamos, ocorreram na Europa, muitos municípios aproveitaram para introduzir a taxa turística, a qual serviu para cobrir défices excessivos como, por exemplo, sucedeu na Croácia. Por conta da introdução da mesma em Dubrovnik (eis um destino “massacrado”), outras localidades aproveitaram a boleia e fizeram o mesmo. Infelizmente, os exemplos de fora são claros: a taxa nunca serviu para melhorar a experiência do turista ao visitar determinada cidade ou região, mas sim para ajudar a fechar o “gap” das contas públicas.

É, pois, claro como a água: sem taxa turística em Lisboa, não teria a mesma sido introduzida no Porto e não teria sequer sido assunto ou tema de discussão no Algarve.

Ainda que se pudesse aceitar a taxa como apenas “mais uma” de muitas, teríamos sempre de discutir o problema nuclear e que é o seguinte: não devemos nunca, mas nunca, no Algarve dar esse péssimo sinal de que achamos que temos “turismo a mais”. É um erro, sim, logo agora que outros destinos de sol e praia estão a recuperar e bem. Isto significa que o Algarve terá seguramente grandes dificuldades em crescer como tem ocorrido nos últimos anos, situação que já se verificou em 2018 (aguardamos os números finais, mas já há quedas importantes no turismo britânico, só para dar um exemplo) e que se poderá evidenciar em 2019. Agora, os grandes operadores turísticos (e não só) estão claramente a tentar desviar os turistas de Portugal e Espanha para destinos mais baratos, mais concorrenciais na relação qualidade/preço, situação visível pelo regresso à ribalta dos destinos Tunísia, Egito ou Turquia (este é realmente barato para os europeus), isto para não falar da Grécia, da Croácia e muitos outros exemplos dentro e fora da Europa. Numa hora de incertezas e maior instabilidade global será legítimo começar a cobrar uma nova taxa exatamente numa altura em que poderemos ter dificuldades em crescer ou mesmo não crescer? O Algarve, em 2018, como dissemos, já não terá crescido por aí além em número de visitantes. Em alguns casos as receitas e os lucros de muitas unidades hoteleiras já terão até diminuído. Não parece, pois, nada prudente introduzir esse tipo de tributo. Se os autarcas soubessem como é enervante para os turistas o pagamento, por exemplo, de portagens como as da A22, certamente pensariam melhor sobre tudo isto.

Ainda por cima, apesar de, teoricamente, ser o turista a pagar a taxa, o que se verifica na realidade é algo diferente. Na prática, será sempre o empresário que a sustenta porque nenhum proprietário de estabelecimentos de dormidas vai deixar que a mesma inflacione os preços no atual ambiente de elevada concorrência, sobretudo os de pequenos estabelecimentos “low cost” (para não falar da burocracia, pois o empresário é que cobra, mas o município é que beneficia). Se a dormida for de €49,00 por noite, a mesma passará a ser de €48,00 para que o preço final não passe dos mesmos quarenta nove euros originais. Em todo o caso, ainda que seja mesmo o turista a pagar e caso ele tenha uma estadia de 5 noites, serão sempre mais cinco euros (pelo menos, pode ser mais) a sair da esfera dos privados a favor do Estado. Há que não esquecer que os municípios também são Estado. Numa época em que a política oficial do Governo e da maioria que o sustenta é a progressiva (ainda que lenta) devolução de rendimentos às pessoas (e também às empresas), fará sentido extrair dos privados mais uns milhões de euros por ano? É uma contradição! Neste Algarve tão sazonal quaisquer verbas retiradas das mãos dos empreendedores podem ser prejudiciais ao andamento e desenvolvimento dos respetivos negócios.

Por outro lado, este tributo levará inevitavelmente a diversas injustiças, sendo importante dar alguns exemplos para reflexão.

Desde logo, o nome é bem enganador. Isto não é uma taxa turística, mas sim uma taxa de estadia, começando logo por ser uma grande injustiça (Veneza é que tem uma verdadeira taxa turística pois é cobrada pelo ato de visitar a zona histórica). Porque é que os fornecedores de alojamento é que têm de cobrar estas verbas quando a presença de turistas beneficia todo o tipo de negócios de uma região como a nossa? Os turistas não se alojam e desaparecem. Eles usaram transportes para cá chegarem, na maioria das vezes dois ou três meios de transporte. Também vão a restaurantes e/ou outros estabelecimentos congéneres. Muitos também consomem diversas experiências um pouco por todo o lado. Isto significa que a taxa é escusada pois os turistas já estão a pagar impostos bem pesados através do seu consumo de bens e serviços. Além do mais, quando um Hotel paga a conta da água está a pagar aos municípios toda a sorte de serviços inerentes à referida conta, a qual não existiria se não fossem esses hóspedes. Por outro lado, temos a questão da definição legal de turista. Sendo apenas as estadias até 30 dias consideradas “turísticas”, só estas é que vão pagar (até x dias de estadia) a dita taxa. Um “turista” que passe uma temporada, digamos, 90 dias através de um serviço de aluguer de média duração já não será considerado turista para este efeito, apesar de, legalmente, o ser. E se for daqueles cidadãos do Espaço Schengen que ficam o tempo que querem, ainda mais gritante se torna. Ao mesmo tempo, quem vai cobrar esta malfadada taxa aos milhares de autocaravanistas que se encontram no Algarve todos os anos, com destaque para a atual época do frio? É que estes cidadãos representam milhares de noites de estadia incobráveis, já que não passam nenhuma noite em alojamentos legalizados. Ou seja, turistas de baixo valor acrescentado para o destino Algarve são beneficiados pela própria natureza das circunstâncias. Injusto. Também há que ver a questão do cidadão residente alojado em unidades hoteleiras. Confuso? Não. Basta pensarmos nas milhares de dormidas anuais de funcionários públicos ou trabalhadores privados de fora da região que vêm ao Algarve a trabalho ou por outro motivo não turístico. Além do Algarvio de Aljezur ou de Alcoutim que vai dormir uma noite num alojamento em Faro devido a uma consulta matinal de especialidade no hospital local. Injusto. Finalmente, para não alongar muito os exemplos, que dizer da fórmula de cobrança? Só vai recolher e entregar a taxa o empresário honesto e cumpridor que paga tudo só por respirar. Os eternos prevaricadores que já fogem de outros impostos e taxas (de certeza que ainda existem) também vão conseguir fugir deste tributo. Duplamente injusto. Em suma, é uma taxa de estadia, não é paga por todos e acaba por ser paga também por quem não deveria ter de fazê-lo. Ao mesmo tempo, faz muita confusão pensar que concelhos como Monchique, Alcoutim ou S. Brás, só para citar alguns, alinham nisto. A sério? Têm estes concelhos tantas dormidas ao ponto de querer afastar as pessoas? Concelhos existem nesta região que têm visitantes só em passeio, situação que não corresponde a nenhuma dormida. Cruel.

Por outro lado, há que desmontar a tese de que se trata só de “mais um euro ou dois”, algo que não impacta as contas de ninguém. Isso é como começa… mas não sabemos como acaba. Lisboa é o primeiro exemplo. Ainda agora introduziu a taxa mas já está a aumentar o seu valor. O mesmo ocorre um pouco por todo o lado. Tempos houve em que Amesterdão só cobrava uns míseros euros por dia. Hoje, nos bairros do centro velho da cidade a taxa já subiu para 7% do valor total da dormida. Sim, leu bem, não há engano. Quem quiser pagar bem menos, vá dormir para alojamentos da periferia. E assim, não se sabe como estas coisas acabam. Na Nova Zelândia foram ao absurdo: introduziram a taxa para todos, exceto para os vizinhos Australianos, os quais são dos principais emissores de turistas. Estranho? É o que acontece quando se abre a caixa de pandora.

Como se toda esta argumentação não bastasse, vale a pena refletir tal como fizeram “think tanks” da Malásia, que criticaram abertamente a taxa mesmo sabendo que se trata de um país pobre cujo Estado necessita de receitas. Dado que a taxa está a ser “vendida” como algo que vai “compensar” os efeitos da pressão turística, ela nada mais é do que mais uma “taxa do pecado”. Para quem não conhece, este conceito até é antigo, tendo surgido a propósito dos impostos especiais sobre o tabaco, as bebidas alcoólicas, sobre produtos derivados de petróleo, sobre itens açucarados, para não falar de outros tributos ambientais, etc… a filosofia é a mesma. Quem peca mais, paga mais. Neste caso, o “pecaminoso” é o turista que tem de pagar por consumir as nossas infraestruturas, os nossos recursos, tal como o fumador paga mais por, garantidamente, exaurir mais recursos dos serviços públicos de Saúde. Ora, como já vimos, se esse argumento ainda poderá ter alguma validade (duvidosa) em certos centros urbanos do mundo, nada disso se pode aplicar ao Algarve. Nem no mais delirante pensamento. Se não forem os turistas a “consumir os nossos recursos e infraestruturas”, a quem é que eles se destinam? A meia-dúzia de idosos (somos uma população envelhecida) e uma dúzia de funcionários do Estado? Poderá haver melhor exemplo do que aquilo que se passa no mês de Janeiro? Um Algarve semi-moribundo, parado, desesperado à espera de turistas. Uma população desocupada ou num esquema de emigração de curto prazo. O que seria hoje o Algarve sem esses “gastadores dos nossos recursos e infraestruturas”? Os antigos diziam e bem: nunca mordas a mão que te dá de comer!

Poderíamos ir mais além, mas não é necessário, pois outros já apresentaram diferentes argumentos. Por isto e muito mais, no nosso caso regional, há que dizer com todas as letras: não à taxa de estadia mascarada de taxa turística no Algarve!